[Pausa – aos que se foram]
Muitas vezes não
conseguimos alcançar nossos objetivos, por mais simples que possam parecer. E
muitas vezes deixamos passar algumas oportunidades de ouro.
Conheci Babau do Pandeiro
na adolescência, por indicação do amigo Raul Zobole. Por duas décadas, tive a
possibilidade de conseguir contato com Babau. Em 2017, me mudei para
Mossoró/RN, com constantes idas a Fortaleza/CE, terra de Babau. Nesse mesmo
ano, ganhei do amigo Caio Talmag dois CDs de Babau, comprados pelos seus pais
diretamente do próprio. Salvei na minha agenda o número do artista, constante
no CD, mas nunca fiz contato. Em 2022, conversei por WhatsApp com o produtor
dele, que alegou estar recuperando todas as gravações de Babau, e solicitei que
gravasse tudo para mim, com o autógrafo de Babau. Depois de um tempo, ele nunca
mais me respondeu. Em 2024, tentei novamente contato via página do Instagram do
artista sem sucesso.
Quando comecei a publicar a
breve lista de discos bizarros da música brasileira da década de 2000, já a
havia concebido há mais de três anos. Cinco dias após divulgar a minha
publicação sobre o álbum de estreia de Babau, terceiro colocado da lista, sou
surpreendido com a morte do artista. Talvez eu devesse ter tentado mais. Talvez
eu deixei passar oportunidades de ouro.
Perdi muitas oportunidades
de ouro na vida, como por exemplo: (1) gravar todas as músicas (canções e
instrumentais) de Horácio Simões, meu pai, e escrever sobre toda sua produção
antes do seu falecimento em 2019 (foram muitos anos entre a minha adolescência
e idade adulta nos quais eu poderia ter me dedicado a isso); (2) escrever sobre
a discografia de Chico Lessa (o capixaba do Clube da Esquina) com o próprio
artista, antes do seu falecimento em 2024 (por meses eu tive o seu contato, mas
fui deixando para um depois que nunca chegou); (3) escrever sobre a discografia
de Elias Belmiro, violonista capixaba, com o próprio artista, também falecido
em 2024 (algo que eu pretendia há anos... eu pretendia tocar também algumas
obras dele, o que ainda não fiz); (4) trocar uma ideia com Arthur Moreira
Lima, pianista do qual sou bastante fã, falecido também nesse ano, e sobre quem
pretendo escrever no futuro (sinto que ele gostaria da ideia de conversar sobre
a sua extensa trajetória discográfica).
Não adianta chorar sobre o
leite derramado; só nos resta erguer a cabeça, nos debruçar sobre possíveis
projetos junto a artistas que ainda estão por aqui, e honrar a memória dos que
se foram com publicações que alcancem a grandeza de suas obras. Isso é o que eu
tenho organizado nos últimos anos e o que pretendo publicar a partir de 2025, lançando
luz sobre muita música espetacular que se encontra fora de catálogo e/ou que
não teve a devida atenção diante da força inexorável do tempo e das grandes
corporações.
O hiato que dei logo após a
publicação do texto sobre Babau do Pandeiro e seu falecimento poucos dias
depois foi simbólico, e coincidiu com minha finalização do curso de
Licenciatura em Música, quando eu não estava mais conseguindo conciliar as
publicações com o trabalho e estudos. Retomo agora as publicações, em um
momento enfim mais oportuno. Continuem acompanhando as publicações, pois muita
coisa boa está por vir, pelo menos pelos próximos 10 anos. E por que não
finalizar a postagem com uma música perfeita e também altamente simbólica?
Texto revisado por Sabrina Souza
Crédito das Imagens: Babau do Pandeiro – Fonte: Diário do Nordeste
Publicado também no Caderno de Cultura da Pressenza International Press Agency
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