Renato e Seus Blue Caps em Mossoró/RN
No dia 8 de novembro de 2025, no Hotel Villa Oeste
(Mossoró/RN), aconteceu a Noite da Jovem Guarda, que contou com apresentações
musicais de Renato e Seus Blue Caps, Almir Bezerra (antigo vocalista do The
Fevers), Os Pholhas, Coroa Boy e Robertinho do Acordeon. Embora fosse um
ambiente de difícil acesso e com problemas estruturais e organizacionais
básicos, nada disso pareceu tirar a alegria e vitalidade do público, em sua
grande maioria pessoas 60+.
Como fã de carteirinha de Renato e Seus Blue Caps (“a
melhor banda de rock do Brasil!”), eles foram a grande motivação para eu ir ao
evento, embora eu também admire outros nomes da Jovem Guarda. Inclusive, foi
incrível assistir Os Pholhas ao vivo, estes que fazem parte de outro importante
recorte da música pop brasileira, do qual sou ainda mais adepto: o dos “falsos
gringos”, ou seja, bandas brasileiras que cantavam músicas originais em inglês.
Este
foi o segundo show do
Renato e Seus Blue Caps que eu assisti; sendo o primeiro em 2022, em Natal.
Renato Barros foi um importante artista, compositor e
produtor da Jovem Guarda e de outros gêneros. A banda Renato e Seus Blue Caps
foi fundada em 1959, e já iniciou sua carreira discográfica (singles de
goma-laca de 10” e 78 RPM) em 1960. O primeiro álbum do grupo, Twist,
é de 1962, e o segundo, autointitulado de 1963, contava, entre seus
integrantes, com Erasmo Carlos. Cid Chaves ingressou no grupo como saxofonista
e vocalista em 1964, se firmando ao longo dos anos como
vocalista/crooner/entertainer do RSBC. A produção discográfica do grupo foi
muito abundante entre os anos 60 e 70, além deles serem a banda de apoio de
diversos artistas da Jovem Guarda.
Nos anos 80, foram produzidos apenas três álbuns de
originais, e sua discografia se completou com um último álbum de estúdio em
1996 - com diversas regravações, e apenas duas originais - e seu único álbum ao
vivo em 2001. As coletâneas e relançamentos, por sua vez, oficiais e não
oficiais, sempre abundaram por aí. Renato Barros faleceu em 2020, e Cid Chaves,
único integrante da época áurea, continua levando adiante, com muita energia e
musicalidade, o legado desta banda de rock, que é considerada a mais antiga em
atividades ininterruptas - diferente dos discos, os shows nunca pararam.
Além de Cid Chaves, o grupo conta agora com Darci Velasco
(teclados, há décadas com a banda), Bruno Sanson (baixo), Chi Lenno (guitarra
que substituiu Renato) e Fabrício Motta (bateria); todos cantam. Trata-se de
uma banda afiada, com muito vigor e energia, e que traz um show de tirar o
fôlego, quase sem pausas, e em andamentos mais rápidos do que o original em
diversos momentos. É para que as pessoas se envolvam e dancem. Ou se emocionem,
quando for o caso.
A banda entrou no palco com uma vinheta de abertura, que
trouxe um trecho breve de Menina linda, seguida de uma rajada
ininterrupta de oito músicas animadas: A primeira lágrima (composição de
Renato Barros), Como num sonho, Se você soubesse (ambas trazendo
os ares setentistas da banda), Como há dez anos atrás (uma pedrada
nostálgica de Renato), O meu primeiro amor, Até o fim (ambas
famosas versões de músicas dos Beatles), Você não soube amar (versão
fulminante do Garry and the Pacemakers) e Dona do meu coração (outro
cover dos Beatles).
Cid Chaves então dá boa noite ao público, comenta sobre a
amizade de 58 anos que teve com Renato Barros, e diz que, já que a morte não
existe, Renato está por ali, e de fato estará na canção seguinte; cantam,
então, Não te esquecerei (cover de The Mamas and the Papas, utilizando a gravação da voz de Renato, de um show ao
vivo), seguido de algumas canções um pouco mais “lado B” da banda: Ela é tão
linda, Quando a cidade dorme, Cláudia (versão do Creedence
Clearwater Revival) e Garota malvada (outra versão dos Beatles).
O set seguinte foi inaugurado com a breguíssima e
deliciosa Memórias (com uma citação de Besame mucho), e seguido
por duas das minhas favoritas da banda: Não vá embora sem me dizer e Faça
o que eu digo, mas não faça o que eu faço. Após um breve diálogo com o
público, o próximo medley se dividiu em duas partes. A primeira, trazendo os
leves toques jazzísticos de Feche os olhos (outra dos Beatles) e Não
me diga adeus, e a felicíssima versão da desconhecida banda The Gants (Meu
bem não me quer). A segunda trouxe os skas da banda: Será mentira ou
será verdade?, Lar doce lar e O escândalo.
Ao realizar uma fala sobre os colegas da Jovem Guarda,
Cid faz uma chamada ao rock’n’roll, abrindo espaço a uma das dimensões mais
adoradas da banda, mas que, junto aos skas, é a que menos me interessa. Daí
tocaram Negro gato, Festa de arromba, O pica-pau, Vem
quente que eu estou fervendo, Alguém na multidão, Mar de rosas
Whisky a go-go, Era um garoto que como eu amava os Beatles e os
Rolling Stones, e Menina linda - quase todas covers de outros grupos
brasileiros, à exceção da última, talvez a mais conhecida do grupo, e também
uma versão dos Beatles. É de se admirar como esse final levanta o público. Após
a vinheta final, o grupo se despediu de todos para que pudesse dar lugar a
Almir Bezerra, ex-vocalista do The Fevers.
Antes mesmo deste show espetacular, Cid Chaves nos
recebeu de forma bem carinhosa e receptiva para autógrafos, fotos e um breve
bate-papo, que transcrevemos a seguir:
Renan Simões (Bolsa de Discos) - É um grande prazer estar
aqui com Cid Chaves, que eu tanto admiro. Cid, você está no Renato e Seus Blue
Caps desde 1964. Como você se sente, após tanto tempo, trazendo essas canções
tão maravilhosas aqui para o público mossoroense? Como você vê esse momento?
Cid Chaves - Rapaz, por incrível que pareça, eu às vezes
me assusto quando alguém fala do tempo de estrada, como você falou agora,
porque pra mim, nesse momento, estou na expectativa desse show. É uma
expectativa, uma ansiedade, praticamente igual ao início da carreira. Eu acho
que isso alimenta não apenas nós, mas acho que todos os artistas, essa coisa de
você sentir ainda um friozinho na barriga, pra fazer o próximo, né? Acho que
quando isso acabar, é porque tá na hora de você parar. Então, eu diria que é
isso, a expectativa de agradar esse pessoal aí, os nossos patrões. (risos)
Renan Simões (Bolsa de Discos) - Considerando todos esses
anos, acontecimentos, shows, álbuns, parcerias, colegas de banda, e amigos, há algo
especial que você gostaria de destacar?
Cid Chaves - Apesar de tanta coisa, é difícil destacar algo, mas, como a gente tá em Mossoró, me lembrei, assim que cheguei, da primeira vez que estive aqui, em 65 ou 66. Era uma época de cheia, e o acesso foi por um avião pequeno. Isso foi algo que me marcou, pois o normal seria vir pela estrada, que estava interditada. É isso que vou retratar agora, uma lembrança de Mossoró.
Texto revisado por Myrna Barreto
Crédito das imagens: fotos de Myrna Barreto e Renan Simões
Publicado também no site Bolsa de Discos



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