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Mostrando postagens de maio, 2023

#24 - Milton Nascimento e Lô Borges - Clube da Esquina (1972) - Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)

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  Clube da esquina , de 1972, é um dos melhores álbuns duplos da história. Milton Nascimento encontra-se aqui em seu quinto registro, em parceria com o incrível Lô Borges, artista estreante. A equipe de músicos é dos sonhos: Paulo Moura, Wagner Tiso, Lindolfo Gaya, Beto Guedes, Tavito, Toninho Horta, Robertinho Silva, Luiz Alves, Nelson Angelo, Eumir Deodato, entre outros. O caldeirão de estilos aborda do mais raiz ao que há de mais comercial, em diversas vertentes, gerando uma expressão única que, felizmente, se manteve em notáveis registros futuros. Milton e/ou Lô assinam 19 das 21 faixas, em parcerias com Márcio Borges, Ronaldo Bastos e Fernando Brant. Pelo menos sete músicas são perfeitas, e inacreditavelmente foram lançadas em primeira versão neste registro: Tudo que você podia ser , O trem azul , Nuvem cigana , Um girassol da cor do seu cabelo , Paisagem da janela , Trem de doido e Nada será como antes . Além dessas, há a monumental releitura de Me deixa em paz , de Monsueto M

#25 – Antônio Carlos Jobim – The Composer of Desafinado, Plays (1963) – Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)

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  Raríssimos são os álbuns que, como este, oferecem sínteses relevantes e adoráveis de movimentos musicais.  The composer of Desafinado, plays  (1963), de Tom Jobim, traz doze das composições mais relevantes e geniais da bossa nova. Jobim toca piano e violão, em uma linguagem econômica – em relação à quantidade de notas -, mas na medida certa para sua sublime expressão. Os arranjos e regência são de Claus Ogerman, e participam da gravação Edison Machado na bateria, George Duvivier no baixo, Leo Wright na flauta e Jimmy Cleveland no trombone. Sete composições são de Jobim e Vinicius de Moraes, três de Jobim e Newton Mendonça, e duas apenas de Jobim. A famosíssima  The girl from Ipanema  e  Amor em paz  desvelam o espectro sonoro que será utilizado ao longo do registro.  Água de beber  e  Vivo sonhado  são puro júbilo, quanto às composições, arranjos e interpretações.  Insensatez  encontra-se aqui em sua melhor expressão, fazendo jus à grandiosidade do tema.  O morro não tem vez  e  Samb

#26 – Lô Borges – Lô Borges (1972) – Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)

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  Como um artista conseguiu lançar tantas músicas espetaculares em tão pouco tempo? Após nos presentear com composições admiráveis no clássico  Clube da esquina  (1972), Lô Borges construiu um mundo ainda mais particular e instigante em seu álbum de estreia. Estas 15 canções são pílulas sonoras perfeitas que parecem ter saído de 15 planetas diferentes, e possuem trajetórias inusitadas e geniais. O time de músicos é formado por Lô, Toninho Horta, De Jesus, Beto Guedes, Nelson Angelo, Novelli, Rubinho, Tenório Jr., Danilo Caymmi, Zé Geraldo e Robertinho Silva, entre outros. As composições são de Lô, sozinho ou em parcerias com Márcio Borges, Tavinho Moura e Ronaldo Bastos Você fica bem melhor assim  é puro rock, mas absurdamente diferente de qualquer coisa produzida à época no Brasil.  Canção postal  evoca espíritos latinos lamentosos em um contexto onírico de vozes e cordas dedilhadas.  O caçador  e  Homem da rua  são verdadeiras gemas da música terrestre, a primeira em um terreno mais

#27 – Tati Quebra Barraco – Boladona (2004) – Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)

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  O preconceito contra manifestações artísticas da periferia é algo comum na fala de muitos que se apresentam e/ou se veem como “civilizados culturalmente”. Estes nem suspeitam que são, geralmente, mais escravos de um mercado midiático do que muitos que produzem e consomem a arte periférica. O gênero mais diretamente atacado é o funk carioca: o chavão “funk não é música” é bastante replicado na sociedade. Boladona , lançado em 2004 por Tati Quebra Barraco, é o melhor álbum do funk carioca, e um dos melhores da música brasileira. Tati compôs todas as dezoito músicas (quatro em parceria), que foram produzidas por DJ Marlboro. O conteúdo musical é sempre muito caótico e rítmico, com elementos que dialogam profusamente entre si, em choques constantes de timbre e tonalidade, porém em perfeita harmonia e com fluxo admirável. Cabe ressaltar que o cunho altamente sexual das letras não condiz com minha visão de mundo, e provavelmente é isso que assusta as pessoas em relação ao funk: a música é

#28 – Hermeto Pascoal e Grupo – Mundo Verde Esperança (2003) – Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)

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  Em  Mundo verde esperança  (2003), melhor trabalho de Hermeto Pascoal, há 14 faixas: 13 que levam os nomes de seus netos, e uma em homenagem a Victor Assis Brasil. Todas as composições são de Hermeto, e o grupo dos sonhos que o acompanha é formado por Márcio Bahia, Itiberê Zwarg, André Marques, Joana Queiroz, Vinícius Dorin, Fabio Pascoal, Beth Dau e Mariana Bernardes, entre outros. A intensidade e a virtuosidade das composições e interpretações se encontram sempre no nível máximo. A incrível  Taiane  é um dos temas musicais mais sobrenaturais que existem, de quase dois minutos e meio de duração, repetido duas vezes, sem espaço para solos. Sem fôlego, somos apresentados à extrema  Celso , também com um tema gigante (de quase dois minutos), solos incríveis e perfeita sinergia entre os músicos.  Airan  é o mais longe que uma música infantil pode ir, sem perder sua puerilidade; e a música  Uína  é um… choro-baião em 7? Seja o que for, é música brasileira em sua máxima expressão, complex

#29 – Eloy Fritsch – Exogenesis (2012) – Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)

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  Exogenesis  (2012) foi produzido, composto, arranjado e interpretado por Eloy Fritsch, que nos presenteia com o que há de melhor na música para sintetizadores. No livreto do CD há inclusive um agradecimento do artista a Vangelis, Jean Michel Jarre, Rick Wakeman e Isao Tomita. As ilustrações inebriantes de Maciej Rebisz e Mirek Drozd são uma representação visual fiel do que ouvimos no álbum. Gaia , uma evidente homenagem ao tema  Hymn , de Vangelis, abre caminhos para um universo paralelo à nossa realidade.  Neutron star  é música espacial apoteótica e pop da melhor qualidade. Após a desimportante  Sunshine , temos acesso à magnânima faixa título, constituída por quatro partes emocionantes, e com direito a uma série de elementos da new age que nos pegam de jeito. O misticismo toma conta de  Mayan temple , e a sensação de liberdade melancólica permeia  Far above the clouds . Ao final, temos bons momentos com  Moonwalk  e  The immensity of the cosmic ocean , e outros nem tanto com  The

#30 – Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens – Seu Espião (1984) – Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)

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  Quando ainda não haviam se dado conta de que o nome Abóboras Selvagens era bem feio, o Kid Abelha, lançou um dos álbuns mais cativantes da música pop nacional,  Seu espião  (1984), em meio a uma época bastante árida e desinteressante da música brasileira. O grupo contava com Paula Toller, Bruno Fortunato, George Israel e Leoni, responsáveis pelas composições, algumas das quais em parceria com Beni – baterista em algumas das faixas – e Herbert Viana. A faixa-título é morna, mas  Nada tanto assim , abraça a sonoridade e construção musical dos anos 80 com muita propriedade e sentimento. Em  Alice (não me escreva aquela carta de amor) , estamos entre a animação juvenil da new wave e algo mais interessante e consistente. A vã animação juvenil chega com tudo em  Hoje eu não vou , mas o jogo vira em  Fixação  e  Como eu quero , dois dos melhores momentos do grupo, em sublimes atmosferas. A primeira, com um arranjo de base que poderia ser repetido por muito mais tempo sem incomodar, e a segu

#31 – Chuck Norris – Chuck Norris EP (2004) – Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)

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  Este registro da banda Chuck Norris é, sem dúvida, o mais intenso e direto de toda a lista. O grupo é de Vila Velha (ES), minha cidade de origem, e representa o que há de mais intenso e caótico no hardcore/grindcore. Embora sempre impecável nos splits que lançou –  Vila Velha noise beach  e  Jäzzus/Chuck Norris  –, é em seu único trabalho solo que a banda transcende: um EP de 2004, lançado pela alemã Throw Into Disorder Records. Ao darmos o play, ouvimos a alarmante fala: “Pare! O demônio se faz presente neste bonde malévolo; a desgraça é trazida a nós pelo cabrito satânico”. Este é o convite para entrarmos no inferno de  Poder jovem , com toda sua veemência rítmica e choque de seções contrastantes em curtíssimo espaço de tempo. Constatamos, já em  Poluição , a incrível organicidade e unidade do grupo. Em  O preço da nossa dívida externa  e  Boicote às grandes corporações da música  (esta com um título sempre atual e necessário), identificamos elementos mais tradicionais do gênero, p

#32 – Beto Guedes – Amor de Índio (1978) – Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)

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  A faixa-título deste álbum, uma composição de Beto Guedes e Ronaldo Bastos, é um dos sucessos mais incomuns de toda a música brasileira, por conta de seus elementos musicais. Curioso notar que, embora muito do que Guedes faça seja excêntrico, isto não o impediu de gozar de ampla popularidade e de um público cativo. Como muitos dos registros do Clube da Esquina,  Amor de índio , o segundo álbum do artista, tem a participação de grandes figuras, como Wagner Tiso, Robertinho Silva, Tavinho Moura, Flávio Venturini, Luis Alves, Milton Nascimento e Toninho Horta. Após a brilhante faixa-título,  Novena  (Milton Nascimento e Márcio Borges) se apresenta como um lamento muito bem sucedido, executado de forma notável pelo grupo. Estas, somadas à claudicante  Só primavera  (Guedes e Márcio Borges), formam uma heroica abertura para o registro.  Findo amor  (Tavinho Moura e Murilo Antunes) consegue ser bastante intensa, mas é quebrada pela mediana  Gabriel . A voz sempre vacilante de Guedes casa p

#33 – Guilherme Lamounier – Guilherme Lamounier (1973) – Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)

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  Neste álbum, Guilherme Lamounier consegue unir sobriedade e psicodelia em forma de canção. Com composições altamente bem estruturadas, arranjadas e interpretadas, Lamounier pinta um universo muito particular, em um perfeito equilíbrio entre viagens astrais e burocracias cotidianas. Todas as composições são de Lamounier e Tibério Gaspar, e os arranjos, de Luiz Claudio Ramos. Vale ressaltar a extraordinária pintura da capa, de Adelson Filadelfo do Prado. Não é todo dia que ouvimos uma declaração tão impalpável quanto a de  Mini Neila , ou divagações tão enigmáticas quanto as de  GB em alto relevo .  Patrícia  é uma das músicas mais poderosas de que temos notícia, e a qualidade do disco é mantida em  Telhados do mundo , na funky  Freedom , e na ingênua  Capitão de papel . Amanhã não sei  nos conduz para uma esfera filosófica, e nos leva a pensar na importância do agora, enquanto a leveza de  Será que pus um grilo na sua cabeça?  demonstra que esta era efetivamente a mais adequada para s

#34 – Elizeth Cardoso – Canção do Amor Demais (1958) – Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)

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  Não há como não se apaixonar por  Canção do amor demais  (1958), de Elizeth Cardoso. Estamos com um pé no passado da música brasileira – uma voz potente dos cantores da velha guarda, com um quê de canto lírico, arranjos orquestrais bem ligados à música de concerto, e interpretação exalando sofrimento e dor – e outro em seu futuro – a levada de bossa nova, o incremento do jazz americano, um conjunto mais camerístico, músicas e interpretações mais intimistas. As composições são de Tom Jobim e Vinicius de Moraes; Jobim também é responsável pelos arranjos e regência; João Gilberto participa de duas faixas. Chega de saudade  encontra-se aqui em sua versão absolutamente definitiva, um dos momentos mais importantes de nossa música.  Serenata do adeus  é um notável acontecimento melódico e espiritual.  As praias desertas  e  Caminho de pedra , com seus ares impressionistas em feliz diálogo com elementos nacionais, representam grandes revoluções composicionais da música popular. Essas quatro

#35 – Renato e Seus Blue Caps – Isto É Renato e Seus Blue Caps (1965) – Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)

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  Após o sucesso nacional com  Menina linda , e um incrível decolar na carreira, Renato e Seus Blue Caps voltaram ao estúdio ávidos por apresentar ao mundo novas e belas gravações.  Isto é Renato e Seus Blue Caps  (1965) foi gravado em meio a inúmeros shows e gravações com outros artistas, visto que este era o grupo que acompanhava os principais nomes da Jovem Guarda. Neste registro, estão presentes Renato e Paulo César Barros, Cid Chaves, Tony Pinheiro e Carlinhos. Perdemos nosso fôlego com as duas versões iniciais, as incendiárias  Você não soube amar  (que infelizmente, na versão digital, tem o início do riff de guitarra cortado) e  Feche os olhos  – na qual devemos apenas desconsiderar um único e feíssimo acorde na trave. As autorais  O fugitivo , de Luiz Ayrão e Ercio Roberto, e  Preciso ser feliz , de Renato Barros, Paulinho e Lilian Knapp reluzem, mas é em duas versões dos Beatles,  Eu sei  e  Meu primeiro amor , que temos a banda em alguns de seus melhores momentos. Até o fim d

#36 – Homem de Bem – Mantras Indianos (1989) – Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)

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  Em seu álbum ao vivo de estreia,  Mantras indianos  (1989), Homem de Bem é um grupo composto por Tomaz Lima, Lui Coimbra e Antonio Quintella, com a participação de diversos outros músicos de excelência; posteriormente, Homem de Bem passou a se referir a um projeto solo de Tomaz Lima. Com direção musical, arranjos de base e adaptações de Lima, e arranjos de corda e regência de Waltel Branco, os processos de ocidentalização e abrasileiramento dos mantras indianos fluem perfeitamente. A fenomenal  Madana mohana murari , um grande hit, apresenta organicidade e beleza genuínas, nos permitindo adentrar com total entrega ao universo apresentado pelo grupo.  Baja shri Krishna  nos transporta para algo mais melancólico, com arranjos instrumentais e vocais que revelam toda uma gama de emoções; algumas rítmicas mais mundanas, por sua vez, nos lembram que essa experiência de transe é apenas passageira. A alentadora  Bolo hare , com seu quê de maracatu, massageia nosso espírito, mas é cercada por

#37 – Banda Black Rio – Maria Fumaça (1977) – Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)

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  A Banda Black Rio exibiu, em  Maria fumaça  (1977), o que há de mais majestoso e dançante quanto a arranjos musicais, reafirmando, assim, a importância e o poder da música instrumental. Aqui, Oberdan Magalhães, Lúcio Trombone, Barrosinho, Cláudio Stevenson, Cristovão Bastos, Jamil Joanes e Luiz Carlos Batera se transfiguram em verdadeiros deuses da música. A coordenação musical é de Dom Filó, e a direção de estúdio de Liminha. Os grandes destaques são a convidativa faixa-título, de Oberdan e Luiz Carlos Batera, e a intrincada releitura de  Na baixa do sapateiro , composição de Ary Barroso.  Mr. funky samba , de Jamil Joanes, com seu tema e levada irresistíveis, demonstra que toda e qualquer mistura do grupo vai funcionar, como podemos observar logo a seguir, na inusitada  Caminho da roça , de Oberdan e Barrosinho, que já emenda sem respiro na imponente  Metalúrgica , de Cláudio Stevenson e Cristóvão Bastos. Baião , de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, é outra releitura muito feliz, e

#38 – Gimu – Alien Ancestry (2013) – Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)

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  Alien ancestry  é o melhor dentre os oito álbuns que Gimu lançou em 2013, e um dos favoritos do próprio artista. Como característica de boa parte de sua obra, o registro conta com texturas siderais e títulos engenhosos, que só reforçam a aura mágica de Gimu. Do início ao fim, há apenas bons momentos. O sutil e granuloso ambiente de  The day the last myth decayed  inicia o discurso de forma discrete, e a beleza de  Transformed by the turmoil  nos deixa sem gravidade.  Labyrinthine , com sua levada techno quase oculta, ecoa GAS, projeto de Wolfgang Voigt, e nos apresenta um universo distópico, como se Vangelis estivesse produzindo música no século XXV.  Impenetrable  é outro grande feito, ótima trilha para uma abdução alienígena. O registro é todo perfeição, e conta também com as instigantes  On the plateau, the sky at night ,  The stopped clock ,  The arms of endurance  e  The echoes of what it once was . Por não conseguir traduzir melhor a experiência da escuta em palavras, finalizo

#39 – Taiguara – Carne e Osso (1971) – Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)

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  Este é mais um dos curtos e altamente relevante álbuns de Taiguara do início dos anos 70. Situado entre o clima onírico (porém direto) de  Viagem  (1970) e os fugazes  Piano e viola  e  Fotografias , respectivamente de 1972 e 1973, o artista nos apresenta impressionantes cânticos de amor e de protesto – duas questões muito caras para este, e que muitas vezes se confundem entre si. Berço de Marcela  é a contemplação de um horizonte que não conseguimos assimilar por completo; esse horizonte se mostrará mais assimilável no incrível refrão de  Momento do amor .  Virgem dos olhos de vidro  mescla um acid-funk-samba-rock com o sotaque psicodélico que o artista desenvolvia muito bem nessa época.  Bicicletas, etc… , de Eduardo Souto Neto e Geraldo Carneiro, única composição do álbum que não é de Taiguara, mantém a aura do todo. O melhor momento fica por conta da visceral faixa-título, à qual se segue a alucinante  No colo da nuvem . A declaração de  Amanda  e a altamente política  A ilha  en

#40 – Lô Borges – Nuvem Cigana (1981) – Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)

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  Nuvem cigana  (1981) é mais um álbum típico do Clube da Esquina em sua plenitude: composições e arranjos imponentes, executados por músicos nobres. Ainda que o grupo esteja centrado em Lô Borges, Fernando Rodrigues, Paulinho Carvalho, Telo Borges, Mario Castelo e Robertinho Silva, há sempre espaço para luminosas participações, como Toninho Horta, Wagner Tiso, Flávio Venturini, Milton Nascimento e Beto Guedes. A convidativa levada de  Todo prazer , de Lô e Ronaldo Bastos, é puro esplendor; a dupla também assina o lamento solitário de  Uma canção , um grande momento do intérprete, e a faixa-título, cuja regravação só potencializa a força da música.  A força do vento , de Rogerio Ribeiro de Freitas, com fenomenal arranjo de cordas de Toninho Horta, nos faz flutuar por paragens ainda não habitadas pelo destrutivo ser humano. Os ares agradáveis de  Vida nova  e da instrumental  Vai vai vai , somados às leves  Ritatá ,  Viver, viver  e  O vento não me levou , fazem de  Nuvem cigana  um reg

#41 – Hamilton de Holanda Quinteto – Brasilianos (2006) – Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)

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  Hamilton de Holanda, bandolinista e compositor, é um dos músicos mais incríveis do mundo; em  Brasilianos  (2006), este se une aos gigantes Daniel Santiago (violão), André Vasconcellos (baixo), Márcio Bahia (bateria) e Gabriel Grossi (harmônica). O resultado deste encontro é uma verdadeira renovação e oxigenação da música instrumental brasileira, e apresenta uma atitude anárquica. As composições são todas de Hamilton, exceto por dois arranjos de Daniel Santiago. A produção é de Hamilton e Marcos Portinari. Pedra da Macumba  inaugura o registro de forma fenomenal: o tema é extremamente popular, mas em um contexto tão complexo que são necessárias diversas audições para assimilarmos todas suas nuances. Após essa explosão, a faixa-título, disfarçadamente tranquila no início, segue com interpretações feéricas e deslumbrantes do Quinteto. As mais amenas  Baião Brasil  e  Caçuá , somadas à incansável  01 byte 10 cordas , nos apontam belos novos rumos para a música nacional, com o acompanham

#42 – Flávio Venturini – Nascente (1981) – Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)

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  Flávio Venturini já teria entrado para a história por sua lendária participação nos melhores momentos da banda O Terço e pela fundação do 14 Bis, com o qual já tinha realizado ótimos registros. Entretanto, no início dos anos 80, paralelo às suas atividades com o 14 Bis, Venturini se lançou como artista solo, com o nostálgico Nascente , de 1981. Os músicos participantes do álbum integram um todo orgânico, como se suas expressões emanassem de um único indivíduo. Princesa , de Venturini e Ronaldo Bastos, é um grande momento da música pop de qualidade dos anos 80; após esta, há a declaração de Pensando em você , de Venturini e Kimura, com cativante arranjo de cordas de Vermelho. A encantadora instrumental Jardim das delícias retrata o apogeu do artista neste campo. Depois da graciosa Fascinação , de Venturini e Marcelo Alkmim, arranjada por Claudia Cimbleris, temos o momento banal do álbum: uma parceria não muito bem sucedida com Milton Nascimento em Qualquer coisa a haver com o paraíso

#43 – Sá, Rodrix e Guarabyra – Passado Presente Futuro (1972) – Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)

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  Luiz Carlos Sá, Zé Rodrix e Guttemberg Guarabyra uniram suas forças para formar o magnânimo trio Sá, Rodrix e Guarabyra, arautos do rock rural. Sua estreia,  Passado presente futuro , de 1972, é o melhor trabalho do grupo. A direção artística é de Milton Miranda; a direção musical e orquestração, de Lindolpho Gaya, que, segundo texto da contracapa, “fez milagres com as orquestrações de José Rodrix”. Os arranjos de base ficaram por conta do grupo, que também assinam as composições, individualmente, em dupla ou em trio. A horrível  Zepelim  é um péssimo cartão de visitas;  Ama a teu vizinho como a ti mesmo , com toda a sua imponência, poderia ser uma abertura muito adequada para o registro. Daí em diante, somos gentilmente conduzidos ao ambiente sonoro cuidadosamente construído pelos artistas. A orquestral  Juriti butterfly  é uma amálgama meticulosa de gêneros musicais; a cantarolável  Me faça um favor  contrasta com a declaração aparentemente monológica de  Boa noite . O rock bem suc

#44 – Roberto Carlos – Roberto Carlos (1971) – Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)

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  Em seu álbum de 1971, Roberto Carlos chega ao ápice como cantor romântico, em meio a arranjos suntuosos – cortesia de Jimmy Wisner – e melodias de cortar o coração. Entre os músicos participantes, encontram-se Rick Ferreira, Paulo César Barros, Lafayette e Altamiro Carrilho. Detalhes , uma das sete composições em parceria com Erasmo Carlos, é um hino da dor-de-cotovelo, e é sucedida pela balada bluesística  Como dois e dois , uma criação sublime de Caetano Veloso. No entanto, é a declaração apaixonada de  A namorada , de Mauricio Duboc e Carlos Colla, que consiste no ponto alto do registro. A dupla Roberto e Erasmo, por sua vez, é responsável por outras composições incríveis:  Traumas , que tem um quê de  A máquina voadora , de Ronnie Von; as poderosas baladas  De tanto amor  e  Amada amante ; e a pregação funkeada e sempre necessária de  Todos estão surdos . A faixa  Se eu partir , composição de Fred Jorge, também é outro destaque emocionante. O clima fica mais ameno em  Você não sa