#27 – Tati Quebra Barraco – Boladona (2004) – Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)

 


O preconceito contra manifestações artísticas da periferia é algo comum na fala de muitos que se apresentam e/ou se veem como “civilizados culturalmente”. Estes nem suspeitam que são, geralmente, mais escravos de um mercado midiático do que muitos que produzem e consomem a arte periférica. O gênero mais diretamente atacado é o funk carioca: o chavão “funk não é música” é bastante replicado na sociedade.

Boladona, lançado em 2004 por Tati Quebra Barraco, é o melhor álbum do funk carioca, e um dos melhores da música brasileira. Tati compôs todas as dezoito músicas (quatro em parceria), que foram produzidas por DJ Marlboro. O conteúdo musical é sempre muito caótico e rítmico, com elementos que dialogam profusamente entre si, em choques constantes de timbre e tonalidade, porém em perfeita harmonia e com fluxo admirável. Cabe ressaltar que o cunho altamente sexual das letras não condiz com minha visão de mundo, e provavelmente é isso que assusta as pessoas em relação ao funk: a música é irresistível, embora as letras não os representem. Entretanto, o tom da crítica parece ser diferente em relação às letras altamente sexuais de artistas brancos, europeus ou estadunidenses, que são consolidados, não é mesmo?

A impressionante rítmica e produção da faixa-título faz com que a artista brilhe acima de tudo e de todos: daqui em diante, só existe Tati Quebra Barraco em seu universo particular. Montagem do cartão magnético é exagerada no autotune e traz deliciosas cordas e batidas. Seguem algumas apoteoses do funk carioca: as grandiosas Kabo kaki e Montagem Guerreira; a bitonal Sou feia mas tô na moda; e a reflexiva e erótica Montagem cardápio do amor. A sacanagem fica pesada na jogada-na-cara das faixas Satisfação e Se marcar, nos trocadilhos irreverentes de Matemática Dako é bom, e nas exposições didáticas sobre o ato sexual em Montagem ardendo assopraDemole meu barraco traz uma melodia que poderia ter sido feita pelo Nine Inch Nails, enquanto Kraftwerk assombra Yuri Juventude, cantada pelo filho de Tati. O Bonde do Tigrão faz uma boa participação em Orgia, mas as duas últimas faixas, com MC Fornalha e MC Serginho, poderiam ter ficado de fora do álbum.

Tati Quebra Barraco, Boladona, o suprassumo do funk carioca! Ouça, desfrute, reflita, repasse:

Clique aqui para ouvir o álbum completo no YouTube



Texto revisado por Sabrina Souza
Crédito da Imagem: Tati Quebra Barraco - Boladona (2004) – Fonte: Amazon
Publicado originalmente no Caderno de Cultura da Pressenza International Press Agency em 23/04/2023

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