#94 – Gimu – No Longer Fire. Now Marble. Now Cold. (2017) – Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)

 


Gimu é um grande amigo e inspiração. Seu nome aparecerá vez ou outra nessa lista, como uma assombração das profundezas de nossa mente. Gimu traz à tona o peso da humanidade, o que é delineado de forma transcendental em seus sons. Seus trabalhos são a representação mais fiel do nosso íntimo, o que se dá a partir de formas musicais que geralmente não escutamos, ou que ignoramos a existência.

No longer fire. Now marble. Now cold., de 2017, segundo lançamento de Gimu pela Assembly Field, é constituído por uma única faixa de 48 minutos, de mesmo nome. Os tilintares da primeira seção dão espaço a sons sustentados, tão caros à musica ambient e new age. Mas esse não é um som puramente ambient ou new age, é a alma dissecada de um artista, desnudada em todas as suas facetas. Mais à frente, batidas leves e intensificação dos ruídos: é o poder da transmutação de texturas. Algo límpido, cristalino e meditativo vai, bem aos poucos, se transformando em medo, pavor, uma representação do inferno pessoal que vivemos e não admitimos.

Os elementos vão se acumulando, coexistindo, até que surge uma trégua maravilhosa na seção central, com diversos materiais e partes distintas. Se há algo de desagradável, e que sinto a responsabilidade de alertar, é o susto que nos é dado a 39 minutos e 17 segundos. É esse o ponto que se deve cortar do áudio se você quiser meditar com essa música, e a faixa bem que poderia ter terminado aí, de forma espetacular. A seção final consiste em 9 minutos extremamente ruidosos, sobre os quais paira uma bela melodia, mas que agradarão apenas os maiores entusiastas da música ruidosa, do noise, o que não é o meu caso. 

Gimu, No Longer Fire. Now Marble. Now Cold., o íntimo humano como nunca visto antes! Ouça, desfrute, reflita, repasse:

Gimu - No Longer Fire. Now Marble. Now Cold.

Texto revisado por Sabrina Souza
Crédito da Imagem: Gimu - No Longer Fire. Now Marble. Now Cold. (2017) – Fonte: Bandcamp do artista
Publicado originalmente no Caderno de Cultura da Pressenza International Press Agency em 24/10/2021

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