Considerações sobre a própria produção musical [5 de 5] – Brazilian Magic

 


O vaporwave, microgênero de música eletrônica, encontra-se muito bem definido/delineado pelo Wikipedia – tanto em inglês quanto em português. Obviamente, apenas uma escuta atenta de diversos lançamentos do gênero desvelará todas as suas nuances. Afinal, o microgênero se agigantou, ganhou popularidade, ramificações e dialogou profundamente com outros gêneros. O vaporwave também foi, de forma ingênua, cômica e paradoxal, apropriado pela extrema direita (mais informações neste texto).

Geralmente, artistas de vaporwave utilizam gravações já existentes, que são trabalhadas em novo contexto, sendo transformadas em seus diversos aspectos, como rotação e/ou afinação, harmonia, melodia, ritmo, estrutura, timbre ou até significado. Sou um desses artistas, junto a meu irmão Igor Colombo. Após eu ser apresentado ao vaporwave em 2017, pelo amigo músico Caio Talmag, iniciei uma imersão nesse gênero instigante, que não é levado a sério por muito dos círculos musicais, talvez por estar muito estreitamente ligado à cultura do meme e por estar (conscientemente) fadado à descartabilidade (assim como o é quase tudo em música). Todavia, a profunda comunicação emocional de muitos desses artistas me inspiraram a buscar uma expressão sob esta ótica. Nostalgia e piada, contemplação e dança, regularidade e descontinuidade, esperança e distopia, crítica social e alienação surrealista podem aqui estar lado a lado.

Em 2020, Igor e eu começamos a esboçar o primeiro lançamento do nosso projeto Brazilian Magic, a partir de um banco de músicas brasileiras que eu selecionei, como “potenciais para vaporwave”, ao longo de três anos. O resultante Vol.1, lançado pela Vaporwave Tapes Brasil, é um frenético mix de Zé Ramalho, Renato e Seus Blue Caps, César Camargo Mariano, Gal Costa, Rádio Táxi, Marina Lima, Tim Maia, Olivia Byington, O Rappa, Hélio Delmiro, Osmar Milito, Ronnie Von, Marcos Valle, Roberto Carlos, Rogério Skylab, Racionais MCs, Sá & Guarabyra, O Terço, 14 Bis, Rita Lee, Elis Regina, Hermeto Pascoal, Charlie Brown Jr. e Acidente, e foi ao ar no dia 12 de julho de 2020:


Enquanto elaborávamos nosso segundo volume, sentimos uma forte necessidade de lançar dois singles isolados. O primeiro, a partir de Sá & Guarabyra, é o reflexivo Fantasia (7 de agosto de 2020), e o segundo, Filha da Paz (28 de agosto de 2020), uma sincera homenagem a Renato Barros, um mês após sua passagem:



O Vol. 2, também lançado pela Vaporwave Tapes Brasil em 26 de outubro de 2020, pode até ser menos frenético que o primeiro em relação à assustadora velocidade na mudança de climas musicais. Entretanto, o maior tempo de cada faixa proporciona um engajamento maior do ouvinte. Há também uma maior utilização de samples de contextos não musicais, o que reforça a cultura do meme. O conjunto dos samples musicais é bem mais refinado que o do nosso primeiro volume, e abarca César Camargo Mariano, Marcos Valle, Rita Lee & Roberto de Carvalho, Tim Maia, Gal Costa, Facção Central, Jorge Ben, Zé Rodrix, Hermeto Pascoal, 14 Bis, Erasmo Carlos, Ronnie Von, O Terço, Rádio Táxi, Egberto Gismonti, Secos & Molhados, Zé Ramalho, Osmar Milito e Marina Lima:


Nosso primeiro lançamento físico, em 25 de junho de 2021, consistiu em uma participação na coletânea Eternal, da Tiger Blood Tapes, que contou com a participação de 41 artistas, em homenagem a Cesar Alexandre, o Lindsheaven Virtual Plaza, sobre o qual já fiz uma homenagem por aqui há algumas semanas atrás:

A Sorte Como Se Vê

Estamos trabalhando de forma bem tranquila e paciente em nosso terceiro volume. Este, bem como nossos próximos lançamentos, serão disponibilizados em nosso Bandcamp e Canal do YouTube.

ATUALIZAÇÃO EM 21/05/2023:

Vol. 3:


Set no Latin All-Stars:



Texto revisado por Sabrina Souza
Crédito da Imagem: Print do Bandcamp do Brazilian Magic
Publicado originalmente no Caderno de Cultura da Pressenza International Press Agency em 11/07/2021

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