Tudo o que eu tenho a dizer (sobre Música) – Parte 1



Por que ouvimos música? De onde vêm as nossas preferências musicais? 

Eu não me lembro quando comecei a ouvir música por conta própria. Ainda bem criança, já ouvia discos do meu pai (e alguns que eu tinha) no meu pequeno toca-discos. Como nasci em 88, presenciei a substituição dos LPs por CDs.

Além da paixão pela música em si, sempre tive muito interesse pelos lançamentos musicais físicos, especialmente o LP ou disco de vinil. A experiência tátil de manusear as gigantes capas, com suas artes gráficas portentosas, e de efetivamente “ver as músicas” no vinil, sempre me surpreendeu.

Curiosamente, a possibilidade de “ver as músicas” no vinil me gerou uma marca que persistiu por muito tempo: um certo gosto/curiosidade por álbuns com faixas de durações distintas entre si. Lá pelos meus 6 ou 7 anos de idade, eu achava chato ouvir Help! e A hard day’s night dos Beatles, pois todas as faixas tinham praticamente o mesmo tamanho; mas ouvir Abbey road ou o “álbum branco”, também dos Beatles, era muito legal. A experiência auditiva/visual/temporal de álbuns com faixas variadas quanto à sua duração (curtas, médias e longas) me encantava.


Esse detalhe, tão banal, se fez presente em boa parte da minha vida, não só na infância, como também na adolescência e no início da vida adulta: eu constantemente valorizava, consciente ou inconscientemente, álbuns que tivessem uma certa heterogeneidade de tamanho entre as faixas, muitas vezes mais do que o meu próprio gosto pela música em si.

Obviamente, esse não foi o único e nem o mais importante fator para minhas escolhas musicais, mas sempre esteve ali. Entretanto, ao longo dos anos, fui me dando conta que muitos dos artistas e álbuns que atendiam a esse critério, e que eu jurava gostar, não passavam de frustrantes ilusões: em verdade, não gostava tanto assim da música, ou tinha dela até uma certa aversão.

Seguir os instintos dessa mania de criança, contudo, valeu a viagem, pois o que fica são as impressões da busca, que nos acompanharão em nossa vida. É através da busca que abrimos nossos corações para artistas e gêneros diversos. É através da busca que nos maravilhamos com o novo. É através da busca que descobrimos nossas verdadeiras preferências musicais. Além disso, descobrimos a nós mesmos.



Texto revisado por Sabrina Souza
Crédito da Imagem: "Tudo o que eu tenho a dizer" - Pintura de Sabrina Souza
Publicado originalmente no Caderno de Cultura da Pressenza International Press Agency em 07/03/2021

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