Tudo o que eu tenho a dizer (sobre Música) – Parte 2

 


Nossas preferências musicais mudam com o tempo? Qual a importância das nossas influências musicais de berço? Qual o peso que nossas preferências da infância têm em nossa vida adulta? Será que passamos a vida inteira buscando elementos que nos satisfizeram musicalmente na infância? Ou recusando os que nos insatisfizeram?

Não me lembro quando comecei a selecionar o que era a “minha música”. Mas me lembro muito bem que a “minha música”, desde quando me entendo por gente, consistia nos discos dos Beatles que havia lá em casa, além de dois do Pink Floyd e um do Led Zeppelin.

Já Renato e Seus Blue Caps, The Shadows, The Ventures, Ray Conniff, Vangelis, samba, jovem guarda, música italiana, música de concerto, ouvia sempre, curtia demais, mas era a música “do meu pai” e “da minha mãe”. Meu pai, um notável músico amador, e sobre o qual devo me alongar em reflexões futuras, também me iniciou na música; essa iniciação me abriu a perspectiva da música que eu mesmo toco e crio, além da “minha música” que eu ouço.



Admito sim que busco, ainda hoje, consciente ou inconscientemente, elementos musicais específicos que me agradaram na infância: um encadeamento harmônico, um arco melódico, um timbre, uma textura, um tipo de arranjo, uma levada rítmica. Entretanto, sinto que essas preferências por elementos musicais podem se atualizar e se transformar com o tempo, à medida que realizamos nossos processos de busca e reflexão.

Ainda assim, muitos artistas e gêneros que eu acreditava gostar, entre infância e adolescência, não passaram de más experiências que não gostaria de ter novamente; por outro lado, valeu a experiência, como sempre.

Até cerca dos meus 20 anos de idade, eu centrava minha vida em Beatles, Pink Floyd, Led Zeppelin, Yes, Dream Theater e mais uma meia dúzia de bandas/artistas – além de minhas pesquisas auditivas na música de concerto, estas muito mais substanciais.



Eu me mantinha em uma bolha, devido ao hábito de não dar atenção às indicações que me faziam, tanto por eu ser traumatizado com a música de entretenimento da grande mídia, quanto pelas correntes indicações de “salvação da música”, quase sempre furadas – como costumam ser até hoje.

Essa minha limitação de conhecimento acerca do repertório popular, causada por uma desconfiança e desesperança em relação às novas coisas que ouvia, me agoniava. Minha libertação foi iniciar um incessante processo de exploração musical, de coração e ouvidos abertos, a fim de aprender muito mais e refletir sobre o que move o meu íntimo. Iniciei essa busca há cerca de 12 anos, e ela tem realmente mudado o meu mundo.


Texto revisado por Sabrina Souza
Crédito da Imagem: "Tudo o que eu tenho a dizer" - Pintura de Sabrina Souza
Publicado originalmente no Caderno de Cultura da Pressenza International Press Agency em 21/03/2021

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