#1 - Beto Guedes - A Página do Relâmpago Elétrico (1977) - Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)
A página
do relâmpago elétrico
(1977), álbum de estreia de Beto Guedes, pode até não ser o melhor disco da
música brasileira. Entretanto, eu o considero, definitivamente, como o melhor
disco da música brasileira. Logo na primeira frase que canta, Guedes dá pelo
menos umas três escorregadas na afinação e/ou impostação que seriam
inadmissíveis para qualquer cantor profissional. Essa fragilidade vocal, por
sua vez, está totalmente de acordo com a vaporosidade do conteúdo musical
apresentado. Estou mais que ciente de que incompetências técnicas, musicais e
artísticas são comumente saudadas, de graça, como expressões legítimas dos
artistas, geralmente para justificar algo efetivamente ruim como autêntico. Não
é o caso aqui: Guedes cantando Guedes, com toda música e músicos que o rodeiam,
é música de verdade para os ouvintes atentos. A imponente capa, de Cafi e
Ronaldo Bastos, ecoa o conteúdo musical do registro, que conta com a
participação de Toninho Horta, Robertinho Silva, Hely, Flávio Venturini,
Vermelho, Zé Eduardo, entre outros. As orquestrações e regência são de Toninho
Horta.
A faixa-título, de Guedes e
Ronaldo Bastos, talvez seja o tema complexo mais caprichado que foi construído
a partir de acordes triádicos maiores e menores; o orgânico acompanhamento
instrumental é uma das coisas mais perfeitas que você ouvirá nessa vida. Maria
solidária (de Milton Nascimento e Fernando Brant) é o limite máximo que uma
música pop pode chegar, em relação à abordagem de compassos alternados, com
resultados mirabolantes. Choveu (Guedes e Bastos) é a música mais
tocante já composta, com partes vocais pontuais; quando o vocal cede espaço,
definitivamente, para os instrumentos, o êxtase é completo, e nos sentimos
transfigurados. Quando achamos que as fichas acabaram, a instrumental Chapéu
de sol (Guedes e Flávio Venturini) nos presenteia com climas e sentimentos
dificilmente alcançados, superando toda e qualquer produção do rock progressivo
nacional e internacional. Tanto (Guedes e Bastos) é outro tema musical
muito acima da média, torto e acessível ao mesmo tempo, com arranjo letárgico,
como um borrão sonoro que delineia os sentimentos do artista na mais pura
plenitude; a seção instrumental final é de tirar o fôlego.
Somos trazidos de volta à
terra em outro improvável hit pop, Lumiar (também de Guedes e Bastos),
que congrega elementos díspares em prol de uma melodia cantarolável e relevante
para pessoas de diferentes idades. Bandolim (de Guedes) é outra sublime
criação instrumental, e Nascente (Guedes e Murilo Antunes), com linha
vocal extremamente desafiadora, encontra sua perfeita interpretação nas
imperfeições vocais de Guedes. O suave e mais radiofônico final é composto pela
interessante Salve rainha (Zé Eduardo e Tavinho Moura) e o
deslocadíssimo porém agradável choro Belo Horizonte (Godofredo Guedes,
pai de Beto).
Beto Guedes, A Página do
Relâmpago Elétrico, perfeição em forma de som! Ouça,
desfrute, reflita, repasse:
Clique aqui para ouvir o álbum completo no YouTube
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