Gimu - The Lost Will to Want More (2014) - Discografias

 


 

A série Discografias aborda a obra de alguns artistas que cruzaram minhas apreciações musicais, muitos dos quais com pouquíssimas publicações a seu respeito. O segundo artista da série é Gimu, grande amigo e influenciador que produziu uma obra espetacular e única no cenário brasileiro de música experimental. O próprio Gimu tem elaborado textos sobre seus álbuns favoritos:

 

Revelando surrupiadas.

Amo Joy Division.

A quarta música no primeiro álbum da banda, Unknown pleasures, se chama Insight.

Abaixo, o primeiro verso dela:


Guess your dreams always end

They don't rise up, just descend

I don't care anymore

I've lost the will to want more

I'm not afraid, not at all

I watch them all as they fall

But I remember

When we were young

 

É de onde vem o nome desse álbum meu, The lost will to want more.

Quando penso (rapidamente) nele, cérebro afora, procurando detalhes sobre as canções, nada vem (rapidamente). Então estou ouvindo-o enquanto escrevo.

Nessa época, 2013/2014, eu falava muito com essa estadunidense, que depois sumiria. Fiz algumas coisas e dei para ela. Ela colocou alguns toques em The lost...

Criou algumas batidas. Colocou uns sonzinhos aqui, outros ali. Uma criatura por demais misteriosa, e provavelmente de cabeça bem desgraçada, coitada, que acabaria desaparecendo. 

Alguém criando coisas para canções minhas era algo novo.

Batidas como a da primeira música, Too sad, too soon, também são incomuns no que faço. Não sei lidar bem com batidas. Nunca acho que combinam com o resto todo. Batidas parecem querer que todos os outros elementos de uma canção existam por causa delas, em torno delas. Não tenho esse talento, e o que crio é sempre tão sem a preocupação de ter uma batida ditando algo que... é isso. 

Mais detalhes:

Eu amo ping pong delay, e em todo álbum que faço, “se deixar”, eu coloco ping pong delay em tudo. Queria colocar ping pong delay na minha existência. É um troço que realmente mexe comigo, me fascina, mas é um truque bobo. Ou um detalhe bobo. Mas acho a “coceirinha” tão boa, a de um som que vem no meio da cabeça, e depois cai pra direita, pra esquerda, e volta 🙂

Uma vez estava trabalhando em músicas e meu marido deixou uma tampa (de panela) cair na cozinha. “Faz de novo, agora de propósito”. Continuei no quarto onde estava, e ele deixando a tampa cair. Gravei. É a percussão da segunda música, A friday to forget. Irônico, já que esse título tem a ver com um desses momentos ruins que pintam em relacionamentos e estragam o dia. Uma sexta para esquecer. Pois é. Agora lembro dessa sexta pra sempre por causa desse título, mas não tenho ideia do que aconteceu. A gente é mesmo idiota demais, se deixando levar pelas idiotices que a raiva ama, e ter momentos estragados por causa dela. A escravidão por se ter um cérebro. Eu “canto” nessa canção. 

Falando em tampas que caem, percussão. Nessa época eu tinha uma mesa linda onde ficava meu computador lindo. Não tenho mais nenhum dos dois. Sempre tinha umas coisas em cima da mesa. Aliás... se vocês pudessem ver... sempre tem bastante coisa em cima das mesas onde meus computadores ficam. Aquela bagunça organizada. Usava essas coisas em cima da mesa que não tenho mais para criar sons: canetas, lápis, qualquer coisa plástica, uma bola de frescobol, etc. Ouço-os todos, ao longo de The lost... mas nem sempre lembro o que fez o quê. O som que uma bola de frescobol atirada na parede faz é muito legal. Coloca uns efeitos e “vualá”! Baita coisa bacana! 🙂 Mas não tem nenhuma canção em The lost “feat” a bola de frescobol azul. Ainda tenho duas. Uma está aqui pertinho de mim, no chão da sala, 4827 anos depois. É da Genoveva, minha filha canina, mas uma não dá a mínima para a outra. Acho que é porque ela é toda lisinha. A bolinha, não a Genoveva. 🙂

Queria tanto conseguir lembrar qual era o título de It came back one day..., a terceira música do álbum. Tenho certeza de que ela tinha outro nome. Essa é da série “canções que amei muito ter sido capaz de fazer”. 

Ouço vários detalhezinhos de synth no álbum. Eu usava somente UM naquela época. Antes dele, nenhum. Fugia de VST synths. Depois fiz as pazes com eles. Era o que o meu irmão usava, e foi ele quem o instalou para mim. Nem isso eu sabia fazer em 2013, e olha que instalar um VST é das coisas mais bestas na vida haha! 🙂 Baixa, clica, clica, clica e pronto. A vida engoliu meu irmão e ele nunca mais fez música. Uma pena.

Que música nervosa que Dive é! Ela é a quarta do álbum. Muito engraçado ouvir uma música que EU FIZ sem ter ideia de como a fiz. Prestando atenção agora... esses sons todos. Tirando os tais sonzinhos de synth VST, não tenho ideia do que são os outros. Mas eita criatura para gostar de um caos sonoro que sou. Jesus do céu e Nossa Senhora do Bom Parto! 😮 Faltou um “gravezão” em Dive. Faltou mais caos.

Brands on eyelids é um título ótimo! Quinta canção. Olha o ping pong delay aí no começo dela, gente! “Brand” é, dentre outras coisas, uma marca ou cicatriz feita pelo queimamento com um ferro quente. “Eyelid” é pálpebra. Pensa... Baita imagem massa! Horror movie total! 🙂 Quis fazer uma canção gótica com Brands. Os samples de vozes, e batida... esse climão todo. Outra que é pura escuridão! Só faltou aquele “baixão” gótico. Mancada! Olha! Tem eu tocando escaleta no final dela!

E a escaleta que termina Brands é a intro da última faixa do álbum, Just too late. O vocal e a letra, seja lá qual for (hehe), são do meu querido amigo André Graciotti. Na verdade, a escaleta é o céu de Just... está lá, acima de tudo. A música é micro. Toda soterrada. O som em 1:45 é da tampa do vaso batendo no vaso, com algum “resonator” para ficar no tom da música. Tá vendo? Sempre tem espaço para humor, para alguma piada. 🙂 Como é bonito o que André canta, e “words are very unnecessary”. Não conseguiria fazer o detalhe da tampa do vaso hoje porque a do apartamento onde moro hoje é daquelas que descem lentamente. Um saco! 🙂

Quando toquei no festival Novas Frequências, no RJ, em 2013, foram canções desse álbum que toquei, e The lost só seria lançado em 2014, março, sem versão física.


Novas Frequências 1

Novas Frequências 2

Novas Frequências 3

Novas Frequências 4

 

A lindíssima imagem da capa é do Nathan Abels que faz coisas muito lindas.

André Graciotti aka Cellardoor (Um craque!)

Fim.

 

Gimu - The Lost Will to Want More


Texto revisado por Sabrina Souza

Crédito das Imagens: Gimu - The Lost Will to Want More (2014) – Fonte: Bandcamp do artista
Publicado também no Caderno de Cultura da Pressenza International Press Agency

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