Gimu - Sadly Dying Out Never to Resurface Again (2014) – Discografias
A série
Discografias aborda a obra de alguns artistas que cruzaram minhas apreciações
musicais, muitos dos quais com pouquíssimas publicações a seu respeito. O
segundo artista da série é Gimu, grande amigo e influenciador que produziu uma
obra espetacular e única no cenário brasileiro de música experimental. O
próprio Gimu tem elaborado textos sobre seus álbuns favoritos:
Eu queria conseguir escrever as coisas mais
bonitas sobre esse álbum porque ele merece muito ter coisas muito bonitas
escritas sobre ele, coisas bonitas que EU possa escrever sobre ele. Venha,
inspiração, venha!
Mais um dos meus álbuns “biológicos”,
“geográficos”, “astrofísicos”, das profundidades da essência do que quer que
ser humano (do verbo SER) seja.
Se você já leu sobre outros álbuns meus aqui
nessa página, já sabe da influência que coisas que assisto têm no que faço. O
desejo que tenho de criar uma música que seja a representação sonora DAQUELA
COISA apaixonante, que tira o mundo da gente do lugar, que emociona demais.
Normalmente são documentários. E foi assim com Sadly dying out never to resurface
again. Literalmente Tristemente desaparecendo para nunca mais ressurgir
novamente. Tem essa redundância aí do “ressurgir novamente”. Se é
“ressurgir”, já tem o “novamente” nele, né? Mas é como quando a gente fala
“voltar de novo”. Uma pessoa foi e voltou. E depois foi e voltou NOVAMENTE.
Essa é a ideia. De algo que já havia ressurgido, desapareceu, ressurgiu
novamente, etc. No caso do título, algo que nunca mais ressurgir. Fim. Acabou.
Nunca mais.
Lembro que queria evitar melodias no álbum.
Tomei coragem para deixar somente o que seriam os “sons de fundo” para alguma
melodia que estaria por cima de tudo, conduzindo a canção, o que normalmente
faço, porque sou um cagão. Queria mais climas e menos música. Queria atmosferas
e não notas musicais criando alguma coisa. Mas como há música em tudo... Acho
que acabou sendo um álbum bem minimal por causa disso.
Os títulos, claro, saíram dos documentários que assisti
enquanto fazia o álbum.
A primeira música se chama Villa Luz. É o
nome de uma caverna localizada no estado de Chiapas, no México. Ela é
famosa por suas características geológicas únicas, especialmente por abrigar
formações de enxofre. As condições dentro da caverna são extremas devido à alta
concentração de gás sulfídrico, tornando-a um local de interesse científico,
principalmente para estudos sobre extremófilos (organismos que vivem em
condições extremas). Extremófilos mexem muito com meu coração. Os nós na mente.
A terceira música se chama Out of this place in
this landscape, e é sobre alguma forma de vida que não faz parte “daquela”
paisagem, mas está lá. Ou é sobre você, que parece não caber em seu próprio
corpo, em sua própria existência. Que se sente como se sua mente não deveria
funcionar como funciona porque não combina com você, sendo que “você” (ou “eu”,
o “self”) é só uma ilusão. Boom!
A quarta música se chama Devoid of air
(sem ar, desprovido de ar). Não lembro. Essa frase provavelmente saiu de algo
sobre criaturas ou organismos que vivem em condições sem ar, ou seja, em um
ambiente anaeróbico. Essas criaturas são conhecidas como anaeróbios ou organismos
anaeróbicos e incluem várias bactérias e outros microrganismos que podem
sobreviver e até prosperar na ausência de oxigênio. A capa do álbum, aliás, é
uma colônia de bactérias, formando a imagem maravilhosa. Não se esqueça: o
planeta Terra pode ser considerado o "reino das bactérias" em termos
de abundância e diversidade. As bactérias são, de fato, os seres vivos mais
abundantes na Terra. Boom!
A quinta música se chama Sand did that,
“a areia fez aquilo”. Sobre algo que passou a ter a forma que tem por causa da
ação da areia sobre ele, porque a areia pode modificar uma variedade de
aspectos no ambiente e nas estruturas, devido às suas propriedades físicas e ao
seu movimento.
A sexta e última música se chama Dormant,
“inativo”. Na natureza, o termo "dormant" descreve entidades e
processos que estão em um estado de repouso ou inatividade, mas que podem se
reativar sob condições apropriadas. Sementes podem permanecer dormentes até que
a temperatura e a umidade sejam favoráveis para a germinação. Vulcões, por sua
vez, podem ser descritos como dormidos se não entrarem em erupção há muito
tempo, embora ainda tenham potencial para se reativar. Insetos e plantas
frequentemente entram em períodos de dormência durante condições adversas, como
inverno ou seca, para conservar energia. Esporos de fungos e bactérias também
podem permanecer inativos até que as condições se tornem propícias para seu
desenvolvimento. Em cada caso, o estado de dormência permite que esses
organismos e processos sobrevivam e se preparem para condições mais favoráveis.
E termino deixando aqui o texto que está na
página do álbum no meu Bandcamp;
“Algumas semanas que testemunharam minha
tentativa, mais uma vez, de fazer música tranquila. Nem sempre consigo, mas
estou profundamente satisfeito com o que consegui desta vez.
Algumas pessoas rezam e têm
seus deuses. Eu assisto documentários e sou transportado. A maior parte da
música que fiz em 2014 provavelmente foi influenciada por coisas que vieram até
mim através da televisão.
As músicas em ‘Sadly...’
falam sobre o que está distante, espaços vazios, lugares e seres ainda a serem
descobertos, sendo uma coisa e depois outra. Vórtices, vozes e vazios. Elas são
sobre (e para) aquelas pessoas que vão aonde não são esperadas ou previstas.
Aqueles que sempre conseguem ir a qualquer lugar e trazer suas descobertas para
compartilhar.
Essas músicas são sobre
aceitar o fato de que tudo desaparecerá um dia e que está tudo bem, porque algo
maior e melhor virá e tomará o seu e o meu lugar :) Elas são sobre... bem,
estar em silêncio - porque o silêncio “É” dourado - e respirar o universo.
Obrigado.”
Obrigado por ter lido. Um beijo em sua testa. 🙂
Gimu - Sadly Dying Out Never to Resurface Again
Obs.: Segue link para a resenha do álbum que eu
realizei, visto que este ficou em 67º lugar do meu ranking de melhores discos
da música brasileira:
Gimu - Sadly Dying Out Never to Resurface Again (Resenha)
Texto revisado por Sabrina Souza
Crédito das Imagens: Gimu - Sadly Dying Out Never to Resurface Again (2014) – Fonte: Bandcamp do artista
Muito boa essa abordagem musicobacteiana...
ResponderExcluirLembro de uma viagem para produzir música a partir de palavras bizarras da língua portuguesa.
ResponderExcluirUma delas, seria um tema sobre a Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico, e seu significado ainda mais elaborado: " Uma doença rara transmitida pela aspiração de cinzas vulcânicas.