Gimu - Sorrow Was an Embryo (2022) – Discografias
A série
Discografias aborda a obra de alguns artistas que cruzaram minhas apreciações
musicais, muitos dos quais com pouquíssimas publicações a seu respeito. O
segundo artista da série é Gimu, grande amigo e influenciador que produziu uma
obra espetacular e única no cenário brasileiro de música experimental. O
próprio Gimu tem elaborado textos sobre seus álbuns favoritos:
Sabe quando o bagulho passa a ser somente tocar
a vida, mas parece que não tem um sentimento bom rolando enquanto vc segue e
faz suas coisas?
Fui deixando alguns álbuns para o final, para
escrever por último sobre eles, pq fazer isso quer dizer ter que assumir pra
mim mesmo, aqui nessas palavras, que parece que nada bom estava rolando na
minha vida enquanto criava as canções que virariam o álbum “tal”. Sorrow was
an embryo é um deles. Acho esse título um acerto de junção de palavras. E
não saiu de nenhum lugar, os meus “roubos”. Foi só da minha cabeça mesmo, num
daqueles momentos em que você fica pensando que achava que a vida era ou estava
ruim em algum momento, e se esqueceu de pensar que poderia piorar.
Sorrow é tristeza, mágoa, pesar, sofrimento.
Escolhe uma delas. Embryo é embrião. Ou seja, quando o sofrimento ou a tristeza
(ou...) era somente um embrião, pq cresceria, viraria outra coisa, e eu não
podia imaginar. Podia, mas acho que não imaginei. Vai ver sou até otimista,
pensando aqui, quando não esperei “o pior” 🙂 O pior não veio ainda. Quando você sabe que é
o pior vindo ou foi ele que veio? O pior TEM QUE ser a morte? Pra quem? O pior
é o sofrimento que não termina nunca, a dor que remédio nenhum corta, a
depressão que parece incurável, depois de quase seis anos, e de vários
remédios, procedimentos. E quem diria que não seria a minha depressão que
causaria o descarrilamento da vida, depois de TUDO, mas a do meu marido? E vc
achando que a vida é muito doida. É sim. Pode continuar achando. 🙂
E pode piorar, tá? Mas melhora também. Vai que
vc lendo isso aqui é um rabudo e sua vida de um tal momento até hoje só
melhorou ou sempre foi maravilhosamente foda ou fodamente maravilhosa. Rabudo!
Mande a água do seu banho pra gente! 🙂 Vc sabe quão sortudo você é por sempre ter
tido uma vida legal, sem muito tumulto, sem muita dor de cabeça, simplesmente
vivendo, se sentindo quase sempre bem e conquistando o que quer conquistar, e
quando te perguntam ou vc pensa sobre, você conclui que é uma pessoa feliz e de
bem com a vida? Não foi uma escolha sua, tá? O seu cérebro funciona bem. É só
isso. Ou não levou um mundo de pancadas até virar uma meleca e aquilo que vc
chama de “eu” ficar com todas as dores, e com todas as contas de médicos e
remédios.
Então vai ali na janela, olha para fora, dá
aquela inspirada e pensa assim: “Que vida massa que eu tenho. Valeu, universo!”
Tem como você saber disso sem conhecer A DOR? Se você vive uma “existência
autêntica” (Heidegger), você saberá. E eu sei lá se te parabenizo ou sinto pena
de vc por tê-la. Porque eu penso todos os dias que viver no escuro talvez seja
uma forma bacana de não sofrer. Balela. Não há vida sem sofrimento, mas uns sofrimentos
são mais parrudos. Qual o peso do seu?
A segunda música em Sorrow was an embryo
se chama Life in a lackluster loop, e quer dizer “vida em um ciclo sem
brilho”. Resumindo... 🙂
Enquanto eu trabalhava nas canções do álbum,
descobri que tem auroras boreais em Urano. Assim como na Terra e em outros
planetas com campos magnéticos, como Júpiter e Saturno, Urano também apresenta
auroras. Essas auroras são causadas quando partículas carregadas do vento solar
interagem com o campo magnético do planeta e são canalizadas para as regiões
polares, onde colidem com gases na atmosfera, produzindo luz.
Fiquei encantado.
Auroras in Uranus é a primeira música do álbum, e é praticamente
um trava-língua em inglês por causa de tanto som de R (haha ou “rrarra”).
Eu queria TANTO lembrar pq chamei a terceira
música de THE PULL (o puxão). Tem algo bem profundo nisso, é conceito de
algo ligado à espiritualidade ou à física da consciência, ou ao inconsciente,
qualquer coisa a ver com neurociência ou nada a ver, e que é sobre qualquer
coisa que não pode ser explicado, etc, etc? (??). Queria muito lembrar, pq eu
jamais chamaria uma canção de O PUXÃO à toa.
Don’t say anything while we’re kissing é exatamente isso: fica quieto, porra. Tô te
beijando. Não fala nada agora. Não aproveita esse momento em que tô todo
derretido para mandar algum papo chato sobre algo chato. Fica quieto e me
beija, porra. Só isso 😀 Essa música é maravilhosa. Sons fritando.
Normalmente minhas músicas não têm títulos assim.
Stingray in amber. Música 5. Stingray é
“arraia”, aquele animal lindo. Amber é âmbar. Arraia em âmbar se refere a um
fóssil que contém a impressão de uma arraia preservada no âmbar. O âmbar é uma
resina fossilizada de árvores que pode encapsular e preservar organismos e materiais
por milhões de anos. A metáfora aqui evoca imagens de preservação, beleza e a
passagem do tempo. O Word quer corrigir “arraia” para “arraiÁ”. Hahaha.
Música 6: Tears swell. Lágrimas se
acumulam. Nem vou explicar. Um dia nosso apartamento terá virado um mar.
Última música, também conhecida como a sétima: Post
hope.
Se a esperança é a última que morre, e ela já
morreu faz tempo, qual é o sentimento que vem depois dela? Um dia me dei conta
de que, por mais raiva que possa sentir - e não quero mais sentir raiva de nada
- em relação a isso, de viver na esperança de, ou viver com esperança de que,
eu vinha vivendo exatamente assim, esperando pelo dia em que a vida voltaria AO
NORMAL, para viver momentos felizes novamente. Quase como uma oficialização do
acontecimento: HOJE EU DECLARO QUE A VIDA VOLTOU AO NORMAL E EU NÃO PRECISO
MAIS VIVER DE ESPERANÇA! Não caí do cavalo. Eu simplesmente desci dele, dei um
beijo nele, e passei a viver. Só isso. Eu acordo, faço o que precisa ser feito,
se tô bem, bem, se não tô, não tô. Entre a hora em que acordo e a hora em que
finalmente apagarei novamente, faço trocentas coisas e não tenho muito tempo
para outras coisas que não sejam dar minhas aulas de inglês, fazer o meu
mestrado, comer de qualquer jeito, tentar trabalhar em música, ler, assistir,
fazer carinho na Genoveva, rolar com ela, beijá-la muito, torcer para meu amor
ter um dia menos pesado, sem lágrimas virando lagoas, sem desespero
engolindo-o, engolindo a gente. A vida só é realmente boa quando todo mundo que
a gente ama tá muito bem, “alive and kicking”.
Se um dia tudo isso passar, vai ser muito massa.
Vou colocar Good life pra tocar e vou
cantar junto, aos berros:
Love is shining
Life is thriving
In the good life
Good life
Good life, good life
Good life, good life
In the good life
Good life
😅
Se isso é o que a vida passou a ser, vamos lá,
existência, sua sacana!
O sofrimento ainda é um embrião apenas?! Eu
canto Good life de qualquer jeito e foda-se.
Obs.: A capa de Sorrow é uma foto que meu
amado amigo Luciano Bravo fez enquanto sua casa estava sendo construída. O olho
para sacar aquele momento. O moço da foto, cujo nome eu vergonhosamente não
lembro, não acreditou que estava na capa de um álbum. Não me cobrou pelo uso de
sua imagem. haha.
Assim que vi a foto, eu soube que seria a capa.
Texto revisado por Sabrina Souza
Crédito das Imagens: Gimu - Sorrow Was an Embryo (2022) – Fonte: Bandcamp da gravadora The Committee for Sonic Research
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