#3 – Babau do Pandeiro – Meu Primeiro Compacto (2002) – Os 5 Discos Nacionais Mais Bizarros da Década de 2000
Babau do Pandeiro é uma
figura icônica de Fortaleza, e realizou diversas gravações de música de São
João, Carnaval e afins. Infelizmente, sua obra não está organizada e
disponibilizada para o público; esta vem sendo distribuída, desde 2002, pelo
próprio artista, a partir de CDrs. Tentei, ainda sem sucesso, o acesso a essa
obra. Também não temos maiores informações acerca dos títulos exatos das
músicas e seus compositores - há composições do artista, e outras podem ser
facilmente identificadas por conhecedores dos gêneros abordados.
Meu primeiro compacto (2002), registro de estreia
de Babau, é um compêndio bem divertido de marchinhas de Carnaval. Com uma voz
mais que adequada para o gênero, e ótima afinação, a comicidade do álbum reside
nos atravessamentos rítmicos, harmônicos e formais entre o cantor e seu músico
acompanhador. Esses atravessamentos remetem bastante ao álbum Philosophy of
the world (1969), das meninas do The Shaggs, um clássico da música
amadora, apontado por Kurt Cobain, do Nirvana, como 5º colocado no seu ranking
de discos favoritos.
Bebe água, galinha inaugura o Carnaval de
Babau com seu refrão chiclete: “Bebe água, galinha / Bebe água, galinha / Riba
o bico pra cima / Que vocês tudo são minha”. Bota a cabra pra berrar dá
início aos atravessamentos, aqui ainda tímidos. Os desencontros rítmicos,
harmônicos e formais vêm com tudo em Chopada do Magrão. Embora Baracho
retome um fluxo normal, atingimos o ápice do caos nas clássicas Somos seis (Cavaleiros
da Távola Redonda) e A Coca-Cola no Municipal.
As faixas seguintes já soam
um pouco menos interessantes que as anteriores, mas finalizam de forma muito digna
esse set contínuo de 10 músicas: Cadê Didi? Cadê Dadá?, A cidade do
Rio de Janeiro, O calango mais o bode e Cadê Guarim? Aqui, os
desencontros continuam, mas soam cada vez mais naturais, graças à sinergia
conquistada entre Babau e seu ultra perspicaz (e desconhecido) músico
acompanhador. As harmonias deslocadas das duas últimas sempre me arrancam
risos.
O registro finaliza com
três faixas “completas”, mais longas, o que gera um contraponto interessante ao
conjunto frenético de faixas que ouvimos anteriormente. As duas primeiras são
os momentos mais amenos do álbum (Menina do apartamento e Ronqueira),
mas Eu vou parar (cachaça mata) talvez seja a melhor música do artista.
A interpretação é fulminante, bem correta ritmicamente, até que um deslocadíssimo
“Eu vou parar / Pararará”, na penúltima repetição da letra, nos dá uma rasteira
deliciosa.
Observação final: Não sei
ao certo qual a capa oficial deste registro; disponibilizei a que consegui via
download, e que coincide com a única disponível na internet. Entretanto, me
lembro que, à época, havia outra arte de capa disponível.
Clique aqui para ouvir o álbum completo no YouTube
Texto revisado por Sabrina Souza
Crédito das Imagens: Babau do Pandeiro - Meu Primeiro Compacto (2002) – Fonte: Música das Antigas
Publicado também no Caderno de Cultura da Pressenza International Press Agency
Excelente material!! Para os pesquisadores na área de música e estudiosos da área de educação e sociologia o conteúdo do blog é riquíssimo!!
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