#2 – Fellini – Amanhã É Tarde (2002) – Os 5 Discos Nacionais Mais Bizarros da Década de 2000

 


Foi uma grande injustiça deixar Amanhã é tarde (2002) de fora da minha lista de melhores discos da música brasileira, talvez por ser muito bizarro para uma lista de melhores. Quase incorri no erro de não o incluir nessa lista, talvez por ser muito genial para uma lista de discos bizarros. Genial e bizarro, o 5º e último registro de originais do Fellini é o canto do cisne - até o momento - de uma grande viagem musical. Embora a tetralogia clássica do grupo, lançada entre 1985 e 1990, seja cultuada nos submundos, esse álbum não parece ter tido a devida atenção de ninguém, à época e nem depois. Sua versão em vinil só foi lançada em 2023, mais de 20 anos depois.

Muitas faixas são em tonalidade maior, com acordes de empréstimo do modo menor, o que dá uma cor modal muito especial ao conjunto, além de unidade e consistência sônicas invejáveis. Os arranjos são simples e diretos, compreendendo apenas os elementos essenciais para que a expressão artística e as mensagens nos cheguem sem rodeios. As composições apresentam perspectivas para a MPB que infelizmente não foram exploradas por mais ninguém. Os músicos/compositores são Cadão Volpato e Thomas Pappon.

Polichinelo abre o registro de forma mágica, o que se adensa ainda mais em As peles, que utiliza de forma muito genial um sample de Elizeth Cardoso. A faixa-título é mais acessível, e seguida da espetacular Gravado no Rio, onde um caleidoscópio de belezas e estranhezas nos faz dançar freneticamente em ritmo quinário. O refrão cantarolável e a leveza de Greve contrastam com as percussões orientais e a declaração amorosa surreal de Ventre livre. Contraste este também presente entre O quarto - solene, contemplativa, e que nem parece ter mais de 6 minutos de duração - e Besouro - com a presença de berimbau e gaita (!!).

A sequência final apresenta os momentos menos interessantes do registro, mas que sempre nos cativam pela suposta puerilidade dos arranjos, letras e interpretações, ainda que eivados de muita maturidade e profundidade. Entretanto, a penúltima faixa, Longe, é uma das coisa mais incríveis que eu já ouvi, talvez a perfeita representação da amálgama entre a genialidade e o bizarro, que é a assinatura do grupo.

Clique aqui para ouvir o álbum completo no YouTube




Texto revisado por Sabrina Souza
Crédito das Imagens: Fellini - Amanhã É Tarde (2002) – Fonte: Bandcamp da Midsummer Madness
Publicado também no Caderno de Cultura da Pressenza International Press Agency

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