Edu Lobo no Festival MIMO 2025, em Olinda/PE
Em Pernambuco, em meio a uma plateia que
lota a Igreja da Sé, no centro histórico de Olinda, o cantor Edu Lobo
demonstrou toda sua musicalidade, elegância e simplicidade justificando o seu
lugar de importância na música brasileira. Após uma introdução instrumental com
sua banda de estrelas - Mauro Senise na flauta e saxofone, Jorge Hélder no
contrabaixo, Jurim Moreira na bateria e Cristóvão Bastos no piano, direção
musical e arranjos -, Edu Lobo, aos seus 82 anos de idade, demonstrou firmeza
na interpretação de todas as canções, inaugurando com Vento bravo,
destaque da sua produção.
O artista, com ascendência pernambucana
por parte de pai e mãe, seguiu o programa com Cordão da saideira e Frevo
diabo, que muito reverberam a musicalidade olindense, e com a também
animada A história de Lily Braun, imortalizada por Gal Costa na trilha
sonora O grande circo místico, parceria entre Edu Lobo e Chico Buarque -
parceria esta que marca parte considerável dos grandes êxitos do artista. Edu
apontou ser curioso cantar, em uma igreja tão bonita, uma música como Frevo
diabo - e, adiciono, algo tão fogoso quanto A história de Lily Braun.
Sem problemas, um Jesus crucificado estava provavelmente o observando de trás e
curtindo o som.
Após esse fervo inicial, Edu Lobo nos
trouxe uma dimensão mais introspectiva em três canções: Ave rara (parceria
com Aldir Blanc), Noite de verão e Canto triste. Aqui, o artista
nos mostra toda sua potência criativa para cantar a tristeza, passando longe de
uma dramaticidade exagerada. De forma muito bonita e sincera, o cantor não
conseguiu segurar o choro no final de Canto triste, admitindo ao público
que há versos que, mesmo após tantos anos, ainda não foram superados
emocionalmente.
A seguir, o show alterna entre músicas
rápidas e lentas: Dança do corrupião (parceria com Paulo César
Pinheiro), Choro bandido, Ciranda da bailarina e Pra dizer
adeus (parceria de cortar o coração com Torquato Neto). Mesmo utilizando um
teleprompter, Edu erra a letra da complicadíssima e conhecidíssima Ciranda
da bailarina, e tira onda ao “confessar” isso ao público, aproveitando que
está em uma igreja.
Silêncio, parceria póstuma com Vinicius
de Moraes (a pedido da família para que musicasse essa poesia), é seguida por
dois dos maiores destaques do artista, Ponteio e Beatriz,
interpretadas com muito esmero e devoção. Como finalização do show, são
apresentadas O trenzinho do caipira (letra de Ferreira Gullar e música
de Heitor Villa-Lobos) e Na carreira. Atendendo aos pedidos de retorno
da plateia, a noite foi arrematada com Corrida de jangada e Upa
neguinho.
Mesmo rouco e com as vias nasais
obstruídas, Edu Lobo não deixou a desejar no canto de suas melodias complexas,
cheias de volteios e de grande amplitude. Entretanto, convém ressaltar que os
músicos que o acompanhavam - bem como o próprio Edu - poderiam ter uma
performance ainda mais orgânica e visceral se estivessem menos dependentes da
leitura de partituras/cifras/letras; além disso, mesmo com a qualidade da
sonorização, da equipe técnica e dos músicos, a acústica da igreja não permitiu
uma qualidade sonora excelente. À parte essas considerações, foi uma noite
mágica para desfrutar da arte de um dos grandes nomes da nossa música.
Observação final: Myrna Barreto e eu realizamos uma cobertura do Festival MIMO, em Olinda/PE, para o site Bolsa de Discos.
Crédito das imagens: fotos de Myrna Barreto
Publicado também no site Bolsa de Discos


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