Gimu - Alien Ancestry (2013) - Discografias
A série
Discografias aborda a obra de alguns artistas que cruzaram minhas apreciações
musicais, muitos dos quais com pouquíssimas publicações a seu respeito. O segundo
artista da série é Gimu, grande amigo e influenciador, que produziu uma obra
espetacular e única no cenário brasileiro de música experimental. O próprio Gimu
tem elaborado textos sobre seus álbuns favoritos que produziu:
Em 2013,
minha amiga Emily, que é dos Estados Unidos, tinha uma netlabel chamada
Subterranean Tide. Era uma época de muitas netlabels – nem sei mais como é isso
hoje em dia. Prometi a Emily que faria um álbum para o selo. Pelos títulos das
canções, diria que Alien Ancestry (2013) é um dos meus álbuns “geológicos”,
ou “biológicos”, ou “astrofísicos”. Provavelmente estava em um daqueles períodos
em que estou ainda mais apaixonado pelas coisas do universo, vendo documentários,
lendo sobre, etc.
Quando o
processo criativo se dá dessa forma, os títulos das músicas saem de tudo que
leio ou assisto. Acho que alguma coisa me toca mais profundamente, quase como
um “vai, pode tomar conta de mim, e faça as canções”. Tem um lance todo
espiritual nisso, mas não o espiritual via religião. O espiritual em se ser uma
parte de um todo talvez infinito, mas que terá um fim. Eu terei um fim, e em
2024, quando escrevo isso, estou bem curioso para descobrir o que virá depois.
Em 2013, acho que eu não esperaria nada depois do fim, e Alien Ancestry
tem tudo a ver com isso.
Acho que
não gosto muito do nome do álbum hoje em dia. Acho-o meio tolo, diferente da
impressão que tive em 2013. A capa sou eu por dentro (risos), uma das milhares
de vezes que fiz algum exame de imagem, o que deu uma caprichada na quantidade
de radiação do corpo. Procurava e não encontrava nada que explicasse as dores.
Talvez buscasse a causa das minhas dores de cabeça – que estão bem piores e diárias
hoje em dia. Se minha descendência é de aliens, eita DNA ruim! Ou foram as
coisas da Terra que me fizeram assim? Nascer não é brinquedo! Existir depois
disso muito menos!
Naquela
que talvez tenha sido a maior aventura da minha vida, fui parar no topo do Pico
da Bandeira. Você sobe, sobe, sobe até chegar ao que chamam de platô. Acampa lá
para depois sair de madrugada e continuar subindo, subindo, subindo, por horas
até o topo do pico. Nesse platô eu vi o céu mais absurdo de minha vida: nunca tinha
visto tanta estrela antes. Uma coisa inacreditável. Bonito perde. Não tenho
nenhuma foto. Isso foi em 2004. Por isso a quarta canção do álbum tem o nome
que tem: On the plateau, the sky at night.
Quando
terminei Alien, tinha certeza que havia meu melhor álbum até ali. Ainda
bem que fiz vários outros álbuns depois dele e também achei que eram meus
melhores álbuns até o momento em que os fiz (risos).
Quando
toquei no Festival Novas Frequências no RJ, em 2013, fiz umas cópias físicas
completamente DIY do álbum. Um amigo fez o esqueminha da capa, com dobras, e
usamos papel vegetal. As imagens da minha cabeça foram impressas no papel
vegetal. Pensa na dificuldade em dobrar o bicho! Não deu lá muito certo, mas
demos muitas risadas. Totalmente precário, exatamente como eu sou normalmente
sou. Sou de peixes. Tem a ver?
Uma de
minhas cunhadas se sentiu debaixo d’água ouvindo o álbum com fones na minha
frente e comentando. Achei um barato. Pensei no universo e ela foi parar no
fundo do mar! Demais!
Seguem também os links das páginas de Bandcamp da netlabel Subterranean Tide, e do projeto Caterpillars Dressed in Their Finest, uma parceria entre Gimu e Emily:
Caterpillars Dressed in Their Finest
Segue
também link para a resenha do álbum que eu realizei, visto que este ficou em
38º lugar do meu ranking de melhores discos da música brasileira:
Gimu - Alien Ancestry (Resenha)
Texto revisado por Sabrina Souza
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