Gimu - Senses (2017) – Discografias
A série
Discografias aborda a obra de alguns artistas que cruzaram minhas apreciações
musicais, muitos dos quais com pouquíssimas publicações a seu respeito. O segundo
artista da série é Gimu, grande amigo e influenciador que produziu uma obra
espetacular e única no cenário brasileiro de música experimental. O próprio Gimu
tem elaborado textos sobre seus álbuns favoritos:
Senses não teria esse nome. Seria algo como “todas
as coisas em tudo o que não consigo perceber”. Uma viagem minha um dia
observando Genoveva, minha filha canina, enquanto ela percebia o mundo - e a
realidade - à sua maneira, com as orelhinhas fazendo alguns movimentos, o
narizinho meio empinadinho dando aquelas fungadinhas rapidinhas, os olhos na
noite. Eu estava chapado. Ela não. Estava chapado nela também. Era noite e estávamos
na varanda do primeiro apartamento onde ela viveu, seu primeiro lar. Agora estamos
no seu sexto lar, e ela faz 9 anos daqui a uns dias. Hoje é dia 10/06/2024.
Senses é um nome bem sonso para um álbum, mas
não tive tempo para escolher um esperto. O selo achou o “todas as coisas...”
meio estranho demais. Imagina! (risos) Estou pensando aqui agora, enquanto
escrevo: eu cedi, né? Que coisa! Mas no final das contas era isso mesmo, é um álbum
sobre os sentidos, sobre sentir (não de FEELING, mas de SENSE), sobre o que é a
realidade pra mim e o que é a realidade para Genoveva e... expande isso aí para
qualquer espécie que você queira escolher. A minha já é diferente da sua, ser
humano mais inteiro do que eu, porque não enxergo mais muito bem, e meus
ouvidos não devem ser lá mais grandes coisas mais também. E dor é parte da
minha realidade. Os ossos, ai, os ossos! (risos).
Tá. Aí
concordei com o nome bocó que tem tudo a ver.
Senses deveria ter sido meu segundo álbum pelo
extinto selo UAE da Noruega, que lançou meu álbum Of the spirit, of the
space. O selo pagou pela masterização do álbum, e eu escolhi quem iria
masterizá-lo, um norte-americano chamado Rafael Anton Irrisari, que faz música
muito linda. Entretanto, no meio do caminho, o selo encerrou suas atividades porque
o dono adoeceu e preferiu ficar quietinho no seu canto pra sempre. Grande
escolha! Enviei o álbum para alguns selos e acabou sendo lançado pelo selo
Unknown Tone Records (EUA). A arte da capa foi uma sugestão do selo e eu só
aceitei.
Os títulos
(em português):
1. Mundos
dentro de mundos: dentro de mundos, dentro de mundos, dentro de mundos.
Microscópios e telescópios revelam.
2. Coisas
do passado: de milhares de milhões de ano atrás até aqui. Ou de outro dia até
aqui. Como o passado te moldou? Por escolha?
3. Lilás
claro: só porque amo essa cor mesmo. Fiz essa canção em algum momento em
que estava ouvindo muito o Entroducing do DJ Shadow, novamente, álbum
que amo desesperadamente. Ela não tem nada a ver com a música de Entroducing
mas tem tudo a ver com tudo o que ouvi na vida. Ou seja.
4. Olho
primitivo: uma canção biológica, tirada de algum documentário sobre
criaturas ancestrais, sobre como foi a evolução do olho.
5. Mais
puro: não sei porque “mais puro”. Talvez pelo som da palavra, “purer”. É
engraçado dizer “purer”: /ˈpjʊərər/ ou /ˈpjʊərə/.
6. Sentidos:
e já que “sentidos” virou o nome do álbum, vai também como nome da última
faixa.
Segue link
para a resenha do álbum que eu realizei, visto que este ficou em 46º lugar do
meu ranking de melhores discos da música brasileira:
Texto revisado por Sabrina Souza
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